Tarifaço de Trump: Guerra Comercial ou Estratégia Geopolítica?
- Jornal O Inconfidente
- 2 de abr.
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O anúncio do novo pacote tarifário do ex-presidente Donald Trump ocorreu em 2 de abril de 2025, durante uma cerimônia no Jardim das Rosas da Casa Branca. Na ocasião, Trump declarou uma "emergência nacional" para justificar a imposição de tarifas generalizadas sobre as importações, chamando o dia de "Dia da Libertação" (Liberation Day). As medidas incluíram uma tarifa universal de 10% sobre todas as importações, com taxas ainda mais elevadas para 57 parceiros comerciais, incluindo uma tarifa efetiva de 54% sobre produtos chineses, a partir de 9 de abril de 2025. Essas ações marcaram o início de uma nova fase na política comercial dos Estados Unidos, com repercussões significativas tanto no mercado interno quanto nas relações internacionais. A mídia global cobriu extensivamente o anúncio, destacando as possíveis consequências econômicas e geopolíticas das novas tarifas. Não passou despercebido por nós... Trump....

Está todo mundo tentando entender qual é a de Donald Trump com o tarifaço. E eu estou aqui para te explicar aquilo que não foi divulgado pela mídia brasileira. Trump quer reindustrializar os Estados Unidos.
Com qual objetivo? Primeiro, um objetivo geopolítico. Caso os Estados Unidos entrem numa guerra com a China, você precisa ter indústria. E essa guerra pode ocorrer por conta de Taiwan.
Segundo objetivo é por conta da base eleitoral dele, ou seja, aqueles trabalhadores da indústria que perderam o seu emprego. Agora, a economia americana é uma economia rica, com uma renda per capita muito alta, num modelo que deu muito certo com a globalização e que dá certo. O país ainda é muito rico e tem uma baixa taxa de desemprego.
Por que, então, toda essa guerra tarifária? Para isso, a gente precisa entender a cabeça dos economistas que estão por trás de Donald Trump. Scott Breslin é um deles e outro Steve Meehan, que é um outro economista. Um é conselheiro do Trump, o outro é secretário do Tesouro.
A ordem americana, econômica global, iniciada por Ronald Reagan, foi aquela ordem de mais comércio internacional, inclusive aceitando que as outras nações aplicassem tarifas protecionistas contra os Estados Unidos. E você vai falar, Alain, mas que loucura é essa, dando essas vantagens para esses países? A ideia era manter os países como aliados dos Estados Unidos. Vamos lembrar que a gente estava num contexto de comunismo.
E, ao mesmo tempo, que esses países acumulassem dólar. Isso traria uma valorização do preço do dólar. E quem é que tem a reserva de dólar mundial? Pois é, os Estados Unidos.
Esse modelo funcionou muito bem, porque os países com excedente de dólar emprestavam para os Estados Unidos, para o governo, para a empresa, para a banca, para consumidores. O americano tinha uma grande facilidade de ter crédito, não precisava poupar. Os governos também pegavam emprestado para financiar as suas operações militares.
O grande problema é que o dólar valorizou tanto que ficou muito caro produzir nos Estados Unidos. E aí o que as empresas americanas fizeram? Se mandaram para a China. Só que agora, o que esses economistas têm falado é que esse modelo é muito perigoso, porque você está desindustrializando os Estados Unidos.
Portanto, qual que é o plano de Donald Trump? É gerar um caos tarifário para depois forçar uma negociação cambial. No final das contas, eles têm dois objetivos. Manter o dólar como a reserva de valor, porque isso traz uma grande vantagem para os Estados Unidos.
Eles têm a máquina de dólar, eles podem emitir dólar para se financiar, mas ao mesmo tempo reindustrializar os Estados Unidos. E para isso é preciso desvalorizar o dólar. O problema disso é que no mundo real esses objetivos são antagônicos.
E por que são objetivos antagônicos? Porque se todo mundo continuar usando o dólar como reserva de valor global para transações comerciais, ele vai continuar valorizado. E eu não vou conseguir reindustrializar os Estados Unidos. Agora, na cabeça de um dos economistas do Trump, isso seria possível.
Inclusive ele escreveu isso em um dos artigos. Que é basicamente cobrar por uma taxa de utilização do dólar. Eu, particularmente, acho isso muito improvável, muito difícil.
Mas este é o plano de Donald Trump. Manter o dólar como a reserva global, reindustrializar os Estados Unidos, mas para reindustrializar eu preciso depreciar, desvalorizar o dólar. A guerra comercial seria uma etapa intermediária para chamar os países para a mesa de negociação e depois firmar um acordo cambial.
E a reindustrialização americana está ligada a uma questão geopolítica, eventualmente numa guerra você precisa de indústria, e também para agradar a base eleitoral, aquelas pessoas que perderam os seus empregos na indústria e que acabou aumentando a desigualdade nos Estados Unidos. Deu para entender?
(Análises econômicas de Alan Ghani (Jovem Pan))
O que pensamos?
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltou ao centro das discussões econômicas globais com a proposta de um novo “tarifaço” sobre produtos importados, especialmente da China. Embora a mídia brasileira, em sua maioria, trate o assunto como uma política protecionista isolada, há um plano mais profundo e estratégico por trás dessa medida, segundo especialistas que acompanham de perto os bastidores da política econômica americana.
A Volta da Indústria Americana?
Segundo analistas ligados à equipe econômica de Trump, o objetivo é claro: reindustrializar os Estados Unidos. O país, que ao longo das últimas décadas deslocou sua base produtiva para países com mão de obra mais barata, como a China, agora se vê diante de um dilema estratégico: como sustentar sua posição geopolítica sem uma base industrial sólida?
A reindustrialização é vista como essencial para a segurança nacional, especialmente diante da crescente tensão entre China e Taiwan. Em caso de conflito direto, os Estados Unidos precisariam contar com capacidade de produção interna para sustentar uma eventual guerra prolongada — algo que hoje depende amplamente das cadeias produtivas externas.
Guerra Comercial e o Valor do Dólar
A proposta de Trump não se limita a proteger a indústria nacional. Por trás do “tarifaço”, está uma tentativa de forçar uma negociação cambial global, pressionando pela desvalorização do dólar, hoje considerado sobrevalorizado por muitos economistas.
O problema? Manter o dólar como principal reserva de valor do mundo naturalmente o mantém valorizado, dificultando a competitividade dos produtos americanos no mercado global. O plano seria gerar um “caos tarifário” como etapa intermediária, obrigando as potências econômicas a renegociar regras monetárias internacionais.
Economia x Geopolítica
Esse plano tem como principais influenciadores Scott Breslin e Steve Meehan, dois economistas que, segundo fontes americanas, estariam assessorando Trump em sua plataforma econômica para uma possível reeleição. A estratégia propõe algo ousado: manter o dólar como reserva mundial e, ao mesmo tempo, reindustrializar o país — dois objetivos que tradicionalmente se chocam.
Segundo artigo de Steve Meehan publicado em The National Interest, uma das alternativas consideradas seria cobrar uma taxa internacional sobre a utilização do dólar. Apesar de polêmica e considerada impraticável por muitos, essa ideia revela o grau de insatisfação com o atual modelo global.
A Eleição no Radar
Outro fator que não pode ser ignorado é o fator eleitoral. A base de apoio de Donald Trump está concentrada, em grande parte, nos antigos polos industriais dos EUA — regiões que perderam empregos e prosperidade com a globalização. O discurso de “trazer empregos de volta” continua sendo um trunfo político.
Fontes e Referências:
The National Interest, artigo de Steve Meehan: "Can the U.S. Devalue the Dollar and Still Rule the World?"
Foreign Affairs – Análise sobre o impacto geopolítico da reindustrialização americana
Wall Street Journal – Entrevistas com economistas ligados ao Partido Republicano
Council on Foreign Relations – Debates sobre o futuro da ordem monetária internacional
Comentários de Scott Breslin em fóruns econômicos do Hudson Institute
Dados econômicos: U.S. Bureau of Economic Analysis (BEA)
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