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Retrato Falado da Saúde

“Eu sou a saúde, mas ando cansada.”
“Eu sou a saúde, mas ando cansada.”

"Me chamam de bem-estar, de qualidade de vida, de equilíbrio... mas a verdade é que nem sempre sou tratada como mereço. Eu sou a saúde, mas ando cansada.

Cansada de ver filas nos hospitais, de ser esquecida nas comunidades mais distantes, de ser lembrada só quando a dor chega. Cansada de gritar por socorro em corpos que são silenciados pela falta de informação, pela pressa, pelo descuido.

Eu sou a saúde pública, que luta diariamente com poucos recursos e muitos desafios. Eu sou também a saúde privada, às vezes distante de quem mais precisa, refém do lucro e da burocracia.

Sou aquela que precisa ser cuidada antes que adoeça, não depois que tudo desmorona.

Mas ainda assim, sigo viva. Estou na caminhada do idoso na praça, no prato colorido que vence o fast food, no jovem que busca ajuda para a mente, na mãe que vacina seu filho, no agente comunitário que bate à porta levando esperança.

Estou na atenção básica, no SUS que resiste, no remédio certo na hora certa, no médico que não desiste mesmo diante da exaustão. Estou no abraço que conforta e na escuta que acolhe.

E mesmo exausta, ainda acredito. Acredito que saúde não é luxo, é direito. Que prevenção vale mais que qualquer remédio. Que o corpo fala, mas a sociedade precisa ouvir.

Eu sou a saúde. Quero mais do que ser lembrada em campanhas. Quero presença, prioridade e respeito.

Cuide de mim hoje, para não lamentar amanhã." (Domingos Donde)


🩺 Voz da Saúde: Um Grito Silencioso por São João Del-Rei, pelo Brasil e pelo Mundo

Editorial – Jornal O Inconfidente

"Me chamam de bem-estar, de qualidade de vida, de equilíbrio... mas a verdade é que nem sempre sou tratada como mereço. Eu sou a saúde, mas ando cansada."

Esse texto poderia ser facilmente confundido com um desabafo humano e é exatamente isso. A saúde é viva, é uma entidade social, emocional, espiritual e estrutural. Ela pulsa entre o SUS de uma cidade histórica como São João Del-Rei, nos corredores lotados do Rio de Janeiro, nos desertos médicos da Amazônia, e também nas UTIs silenciosas dos hospitais do mundo inteiro.


A Saúde no Mundo: Entre Avanços Tecnológicos e Desigualdades Cruéis

Vivemos na era da inteligência artificial, dos transplantes de braços e ombros, das vacinas desenvolvidas em tempo recorde, e ainda assim, bilhões vivem sem acesso ao básico: água limpa, saneamento, atendimento emergencial. A saúde, globalmente, é um campo de contradições. Nos países desenvolvidos, há robôs cirurgiões. Em outros, uma parturiente caminha quilômetros para ter o direito de parir com dignidade.


A Realidade Brasileira: O Peso que o SUS Suporta

No Brasil, o Sistema Único de Saúde (SUS) é muitas vezes criticado, mas também é o maior programa de saúde pública universal do planeta. E é gratuito. E é lei. É no SUS que se realiza 90% dos transplantes de órgãos do país. É nele que estão os programas de combate à tuberculose, à dengue, à hanseníase, às ISTs. O que falta ao SUS não é eficiência, é investimento. O que falta não são profissionais, mas valorização. O que falta é gestão de verdade, menos politicagem e mais escuta.


São João Del-Rei: Uma Cidade Histórica, um Sistema que Precisa de Atualização

Em São João Del-Rei, a saúde tem resistido. Temos boas equipes, postos bem localizados, agentes comunitários que fazem um trabalho heroico. Mas há também longas esperas, equipamentos defasados, escassez de especialistas e, sobretudo, uma distância entre a promessa constitucional e a realidade do cidadão. A UPA se sobrecarrega, o Hospital continua sendo o refúgio de quem não tem onde mais ir, e mesmo assim, entre as dificuldades, vidas são salvas todos os dias.


O SUS Ainda É o Melhor Plano do Brasileiro - Se For Respeitado

O brasileiro precisa entender: o SUS é seu. É patrimônio público. É resistência. Se fosse tratado com a mesma prioridade com que se tratam bancos e negócios privados, o Brasil estaria à frente em indicadores de saúde. Quando defendemos o SUS, defendemos a vida de quem não pode pagar R$ 800 por mês em um plano. Defendemos o acesso à insulina, à cirurgia, à mamografia, ao atendimento psicológico.


A Última Chance de Ouvir a Saúde

"Eu sou aquela que precisa ser cuidada antes que adoeça..."Sim, a saúde não começa no hospital. Ela começa na rua limpa, na comida de verdade, no acolhimento mental, na educação sexual, na escola que ensina autocuidado. Ela mora na política pública bem feita, nos votos conscientes, no ativismo de quem exige mais atenção para o básico.

Enquanto o mundo busca curas mirabolantes, a saúde só quer uma coisa: respeito.

Respeite a saúde hoje. Cuide dela com dignidade. Porque não há avanço possível sem corpos e mentes saudáveis.

E lembre-se: o amanhã pode ser tarde.


O RETRATO DA SAÚDE EM SÃO JOÃO DEL-REI

1. A realidade atual: socorro precário e filas eternas

  • UPA 24h: frequentemente sobrecarregada, com falta de médicos, atendimento lento e pacientes sendo transferidos por falta de estrutura.

  • Santa Casa: uma das instituições mais antigas da cidade, funciona com dificuldades e parcerias públicas. Sobrevive com repasses que mal sustentam o básico.

  • Hospital Nossa Senhora das Mercês: atua mais com convênios e planos de saúde, sendo inacessível para grande parte da população.

  • Postos de saúde: muitos bairros têm unidades, mas com atendimento precário, horários limitados, sem médicos especialistas.


A herança familiar: o monopólio invisível

São João Del-Rei vive um fenômeno antigo e problemático:

Famílias de médicos e políticos que dominam o sistema de saúde local há décadas.

  • O que era para ser compromisso com a população, virou zona de conforto, influência e poder político.

  • Muitos nomes se repetem nos cargos, nas administrações hospitalares, em licitações e nos bastidores.

  • Falta meritocracia, e sobra corporativismo — médicos indicam outros médicos, clínicas se conectam com laboratórios, e o ciclo se perpetua.


Resultado?

A saúde deixa de ser um direito do povo para virar um patrimônio de poucos.


Hospital Universitário da UFSJ: o sonho congelado

A Universidade Federal de São João Del-Rei (UFSJ) possui cursos na área da saúde, como Medicina, Enfermagem, Psicologia e Farmácia — mas ainda não possui um Hospital Universitário ativo.

Por que não foi feito ainda?

  1. Falta de investimento federal direto.

  2. Ausência de pressão política suficiente (falta de força parlamentar da região em Brasília).

  3. Interesses contrários locais: ter um hospital universitário público e bem equipado romperia com o domínio das famílias tradicionais da saúde.

  4. Desorganização administrativa: não houve um projeto executivo claro e concreto com cronograma e orçamento amarrados.

CONSEQUÊNCIAS DESSA REALIDADE

  • Pacientes sendo transferidos para Barbacena, Lavras ou BH por falta de UTI ou cirurgias específicas.

  • Jovens formados em saúde sem hospital escola para aprender com estrutura adequada.

  • População desacreditada do SUS local, recorrendo ao particular ou ficando sem atendimento.

  • Médicos sobrecarregados, trabalhando em mais de uma unidade e sem estímulo à qualidade.


O QUE PRECISA MUDAR PARA UMA SAÚDE MELHOR?

  1. Implantação real do Hospital Universitário

    • Pressão popular e parlamentar.

    • Emenda orçamentária exclusiva.

    • Gestão autônoma da UFSJ, sem interferência de políticos locais.

  2. Transparência na administração da saúde

    • Fim de indicações políticas.

    • Licitações públicas e auditáveis.

    • Avaliação de desempenho dos profissionais.

  3. Fortalecimento da atenção básica

    • PSFs com equipes completas.

    • Atendimento humanizado e digitalizado.

    • Educação preventiva em saúde.

  4. Desmonte do feudo médico-político

    • Meritocracia para cargos técnicos.

    • Fiscalização constante da Câmara e do Ministério Público.

    • Rotatividade e renovação dos gestores.

  5. Parcerias com universidades e centros de pesquisa

    • Programas de residência médica.

    • Ampliação da telemedicina.

    • Estágios supervisionados com impacto na comunidade.


CONCLUSÃO

São João Del-Rei tem tudo para ser uma referência em saúde, mas continua presa a um passado que não serve mais. O modelo de gestão atual está vencido, viciado e cansado. A saúde precisa de visão, coragem e ruptura com os modelos familiares de poder. Porque o povo não adoece por opção, adoece por negligência.


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