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São João Del-Rei: A Cidade das Cabeças de Burro, Entre o Passado Glorioso e o Presente Inerte



São João Del-Rei, uma das cidades mais antigas e importantes de Minas Gerais, guarda em suas ladeiras, igrejas e casarões a alma de um Brasil colonial que ajudou a construir a história da nação. Fundada oficialmente como cidade em 1838, foi protagonista no Ciclo do Ouro, ao lado de Ouro Preto, contribuindo com toneladas de metal precioso que foram enviadas para a reconstrução de Lisboa, em Portugal, após o devastador terremoto de 1755. De lá para cá, no entanto, o que era ouro virou ferrugem.


Política: Da Glória ao Desencanto

Com mais de 180 anos de história municipal, São João Del-Rei teve uma sucessão de prefeitos desde o início da república, mas permanece travada em dilemas administrativos que parecem se repetir a cada gestão. Os nomes mudam, mas os vícios permanecem.

Entre os mais recentes estão:

  • Nivaldo José de Andrade, que governou em múltiplos mandatos entre 1993 e 2024;

  • Helvécio Luiz Reis, entre 2013 e 2016;

  • Isso para citar alguns que passaram por essa casa:

  • E o atual prefeito, Aurélio Suenes de Resende, assumindo em 2025.

A cidade acumula promessas não cumpridas, obras abandonadas ou feitas sem planejamento, e uma máquina pública pesada, que trava qualquer tentativa real de modernização. Como diz o ditado local: “São João tem uma cabeça de burro enterrada na entrada e outra na saída”. Uma metáfora folclórica que se tornou diagnóstico social.


O Drama do DAMAE e da Água que Não Corre

Um dos maiores entraves urbanos recentes é a crise no DAMAE (Departamento Autônomo Municipal de Água e Esgoto). Atrasos, falta de planejamento e investimentos insuficientes geram um cenário alarmante: enquanto se fala em expansão urbana e turismo, há regiões da cidade sofrendo com desabastecimento, vazamentos constantes e sistemas precários. O povo paga caro por um serviço que escorre pelos canos podres da negligência.


Cultura em Retrocesso e a Política dos Palpites

O setor cultural, que sempre foi um dos pilares de São João Del-Rei, vive um apagão. Editais são escassos, e os artistas locais enfrentam a desvalorização contínua. O que já foi polo literário, musical e teatral, hoje se sustenta graças ao esforço pessoal de seus talentos, enquanto o poder público oferece palpites demais e trabalho de menos. Projetos engavetados, espaços sem manutenção e ausência de políticas de fomento demonstram um completo abandono institucional.


O Caso do Barracão: Quando a Boa Vontade Não Basta

No setor de infraestrutura, mais uma vez, a falta de visão prejudica a população. O Barracão da Prefeitura, onde deveriam funcionar operações essenciais como capina, limpeza e manutenção urbana, tem sido palco de decisões equivocadas. Um dos erros mais gritantes é a tentativa de desarticular a parceria com o Presídio de São João Del-Rei, que há anos contribui para reinserir detentos por meio do trabalho.

Esses homens, que cumprem pena e buscam uma nova chance na sociedade, têm ajudado na limpeza urbana, reduzido custos da máquina pública e atuado com dedicação. No entanto, o atual comando do setor ignora essa importância. Resultado? Salários de conveniados atrasados, insatisfação geral e desvalorização de vidas que tentam se reconstruir.

Se o projeto é inclusão social, por que continuam a colocar pessoas erradas nos cargos certos? A mesma pergunta serve para outras secretarias. Falta qualificação, falta visão de gestão e sobra política de apadrinhamento.


Desenvolvimento Estagnado: A Comparação que Dói

Enquanto cidades vizinhas muito mais novas, como Lavras, Barbacena e Conselheiro Lafaiete, crescem com campi universitários fortalecidos, polos tecnológicos e parques industriais, São João parece presa no tempo, vivendo da glória passada. É uma cidade onde a história é bela, mas o presente é sofrido, e o futuro é sempre adiado.


Capital que Não Foi

No final do século XIX, São João Del-Rei quase foi escolhida para ser a capital de Minas Gerais. A proposta era implantar a nova capital na Várzea do Marçal, aproveitando sua posição estratégica. A história, no entanto, tomou outro rumo, e a jovem Curral Del-Rei, atual Belo Horizonte, assumiu o posto. A partir dali, parece que São João Del-Rei também perdeu a bússola do crescimento.


Para Onde Vamos?

São João Del-Rei precisa mais do que obras cosméticas e festas para inglês ver. Precisa de gestão eficiente, respeito ao servidor, valorização da cultura e da memória, visão de futuro e menos politicagem barata.

Ou continuaremos enterrando novas cabeças de burro a cada eleição.



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